sábado, 24 de setembro de 2011

Adro de solidão

(Christiano Moraleida)


Que queres fazer desse amor?


Um rio vazio, imerso e sem flor?

Um raro e raso alcance à dor?


Que feio esse amor!


De um peito límpido rasgaste o ávido

do sangue fizeste o pálido

da aurora trouxeste o desesperado adro de solidão


Não faz isso não!


Que queres fazer desse amor?


Se o tudo é o pouco eterno

e a lástima do vazio materno

é a fuga pra ingratidão


Se em sumo pessoa errada

fizeste em estado ingrata

e do choro que perdeu a lágrima

um cume-calmo da desolação


Não faz isso não!


Que a vida ainda implora amada

no manto de agora sagrada

a dor da separação

João Ninguém na terra do nada

(Christiano Moraleida)


Se você quer

tudo bem do seu jeitinho

tudo com muito carinho

você tem que entender


que tem coisas que as vezes acontece

que a gente desconhece

sem a gente compreender

Tem que entender que na vida

se tem muita fantasia,

que querer não é poder


Então fique,

fique aqui mesmo

não vá, não tenha medo

tudo pode acontecer


E o que é certo ou errado?


Jesus morreu enforcado

e Tiradentes foi pregado

e libertado pela CUT


E hoje ninguém discute

se era Deus ou o Diabo


O Papa teve uma overdose

Romeu exagerou na dose

então a Coca-cola surge


E quem não teve virtude

hoje está consagrado


Quem abriu o mar vermelho foi Raulzito

Hitler quem inventou Carlitos

e Elvis morreu de fimose


Izabel só assinou a carta áurea

por que era penetrada

por um negro grande e forte


E Colombo deu um golpe do Estado

tomou posse do outro lado

e festejou na apoteose


Tudo enquanto você dormia

cansado de tanto trabalhar

levanta que o que parecia sonho

era realidade


Você que achava que era esperto

que o errado era o certo

e descobriu depois de um porre

que era mais seguro e interessante

ser um sábio viajante

e descobrir todo o universo


Levanta-te e andas...


Que Judas perdeu as suas botas

porque não ficou de fora

da passeata dos surfistas


Gritando que mar não tá prá peixes

e nem Napoleão conteve

e foi na frente de turista


E Lennon só se casou com Yoko

prá fazer pirraça

com "Mccartney" e seus pais


Depois viu que a coisa ficou séria

afogou-se na banheira

e foi rever seus ancestrais


E você fica parado

assistindo de camarote

compre logo o seu lote

que o céu já está esgotando

passa dia, passa ano

e você nem entrou na história

tem que registrar o seu nome

no nosso quadro de memória

Ausência

(Christiano Moraleida)

Algumas mágoas e muito carinho
Fizeram parte em nosso caminho
Na essência dos nossos gestos
A fala engolida do que eu não percebia
Juro, não sabia
Que o nosso amor estava tão presente
A minha ausência se fez em nossa plenitude
E por te amar menos do que pude
Chegaste ao fim tão de repente

Ai de quem falta o samba pra sobreviver

(Christiano Moraleida)


Haja samba pra levantar

Haja samba pra valer

Haja samba pra suportar

Haja samba pra descer

Haja samba pra esculhambar

Haja samba pra viver

Ai de quem falta o samba pra sobrevi ver


Quem sabe


Da ignorância que reinava

Debaixo do teu turbilhão

Toda a origem destampada

Retratos de um crime comum

Num mundo de estrelas soterradas

Narcos e fanáticos, dramáticos piratas

A dor da tempestade

De uma lágrima rasgada


Há quem diga


Há quem diga que vive na contra-mão

E morre, perdido na solidão

Trapo, barraco e sopapo

Lampejos de amor e cetim

Me engole

Mas deixe da sorte

Um pouquinho pra mim

Indiamim

(Christiano Moraleida)


Pequena índia da terra

Morena dos olhos da noite

Cheiro do alto da serra

Suor, lágrimas de rio doce

Vai que as flores te esperam

Com a ensaiada orquestra dos bichos

Cavalgue seus sonhos adentro

À floresta dos seus princípios

Vai que a vida te espera

Desfrute dos seus adjetivos

Mas leve em sua bagagem

Dez dias dos nossos sorrisos

Dois em um

(Christiano Moraleida)


Tudo está tão simples

E muito mais bonito de se acreditar

Nas coisas que a gente vive

Nada ficou fora ou fora do lugar

E o frio que passamos juntos?

E as chuvas que vieram sem nos avisar?

Foi um passo a cada segundo

Mas qual, nenhum dilúvio vai nos separar


Ah, eu só quero você

Eu só quero saber

Do que você me diz

Ah, eu só penso em você

E no que posso fazer

Pra te fazer feliz

E ser feliz

Uma canção

(Christiano Moraleida)


Preciso ler Carlos Drummond

E ouvir uma canção pra ela

Uma canção de amor

Ouvir uma canção singela


Que fale tudo o que eu quero escutar

Que ouça tudo o que eu quero dizer

Que não separa

Você de mim

E nem eu de você e mais ninguém


Podemos voar assim

Juntos,

Cantarmos assim

Para todos ouvirem

Para todos cantarem também

Sub-jaz que esta acústica me incomoda

(Christiano Moraleida)


A minha geladeira está cheia

De espaço para ocupar

Meu cigarro está acabando

E eu não tenho dinheiro pra comprar

A minha namorada

Me trocou por uma “Drag Popstar”

E eu fico trancado no meu quarto

Ouvindo “Fear of the dark”


É que eu detest funk

Eu prefiro rock ou punk

Por favor, não me dê Funk pra escutar


Meu acerto do trabalho foi roubado

E meu extrato foi para o ar

Meu seguro desemprego sorteado pra umas conta a pagar

Minha dor de saco cheio nem papai Noel tem saco pra agüentar

E minha honra deslavada

Numa análise que eu tive de enfrentar


Meu consolo é um amigo que já viveu piores por aí

Mas do jeito que as coisas andam vou parar na CPI

COMISSÃO POPULAR DE INDIGENTES, coisas que eu nunca vi

Na miséria

Eu virei doutor

Diplomado na UTI

Sub-jaz que esta acústica me incomoda 2

(Christiano Moraleida)


Se é muito, não tão tarde

Derramar sua hipocrisia

Fina estampa de arrogante

Fina flor, demagogia

Sonhe e suma

Preso alarde

Paradigma da sina

Estranha destampada cara

De peroba e parafina


Essa acústica me incomoda

Sub sub-jaz

Ilusão atônita

(Christiano Moraleida)

A sua imaginação não percebe a realidade dos fatos
Integrada aos anseios raros de uma percepção hipócrita
A hora fina do amargo gosto da fantasia suja
O beijo ao sumo, de uma verdade mórbida
Apego à ficção insólita e descontente
Que arde
Nas substâncias límpidas das lástimas do agora
Presente intácto de fome inválida
Presença rara de ilusão atônita

Me ensina

(Christiano Moraleida)


Me ensina a viver sem você

Que eu te deixo partir,

Você pode ir

Para os braços de alguém

Que só lhe quer bem

Não faça chorar

Não faça lembrar

A dor de não ter

Você só pra mim

Juntinha de mim

Que posso fazer?


Me ensina a dizer

Coisas que não precisam você compreender

Não tente entender

Não vá lamentar

A dor de não ter

Eu só pra você

Juntinhos assim

O que será de nós?

Quero

(Christiano Moraleida)


Quero saciar os teus desejos

Lhe cobrir de milhões de beijos

Todo dia ao acordar

Quero seu amor de corpo inteiro

No calor desse aconchego

Sem ter hora pra acabar


Quero ser a sua poesia

Dia e noite, noite e dia

Quero tudo o que vier


Vem me faça mansa

Me balança

De dia me faz criança

De noite me faz mulher

Com você

(Christiano Moraleida)


Quero te ter

Te tocar

E sentir o prazer de estar

Com você

Acordar

E dormir encaixados

Tão bom

Te despir

Te devorar

Te dizer como é bom te provar

De saber como é bom lambuzar

Com você

Tudo fica bom

NPB

(Christiano Moraleida)


Não quero ver a cara de uma nação soberba e estúpida

Que entope a guela de burrice

Não quero ver a cara de uma nação hipócrita

Que goza com as coisas que eles dizem

Se você se instruir

Quem é que vai carregar a mala deles?

É melhor não perguntar

Porque não há ninguém pra responder

Tudo o que você precisa saber

Da NAÇÃO POPULAR BRASILEIRA


Não está escrito nas revistas CARAS

Não está CONTIGO!

E nem está nas falas

Das novelas recheadas de corpos perfeitos

E sorrisos cínicos

Xiquita sacana

(Christiano Moraleida)


Vou tomar um porre

E cair na lama

Pegar meu dinheiro

Torrar toda a grana

Estou de saco cheio

De xiquita bacana

Capital, veraneio

Oportunista banana


Eu não tenho cérebro pra te suportar

Eu vou para o inferno pra não te encontrar

Eu não tenho medo

Não durmo mais cedo

Só pra te agradar


Eu não tenho inveja da sua cobiça

Eu não tenho culpa da sua preguiça

Eu vou e você fica

Suando a camisa pra me alcançar


Eu não puxo o saco

Pra te conquistar

Eu não mudo de nome

Pra ninguém me chamar


Cara plágio de pau

Urubuzana zoreta

Um dia vai se dar mal

Isso não é brincadeira

Cantiga dos deuses

(Christiano Moraleida)


Vem capoeira

Vem capoeira


Yemanjá, Yemanjá

Yemanjá me mandou te chamar


Para cantar

No embalo da alegria

Para dançar a cantiga dos deuses

Ogum e oxalá


Para dançar

No compasso da harmonia

Para evocar a energia

Do mar de yemanjá


Gente que fala com Deus

Gente que fala com o mar

Gente da terra da gente

Gente de todo lugar

Circo (alforria da arte)

(Christiano Moraleida)


Gente que passa

Que dança

Que canta e encanta

Com tanta alegria

Magia

Sacia

Alivia

Alforria da arte

Que invade

Que há de saudade

Trazer esperança

Lembrança

Mudança na vida da gente

Ausente de tanta riqueza

Nobreza de rara beleza

Exaltada no faro

No tato da alma

Que acalma na palma

Ao fim do espetáculo

Eu só quero um blues

Eu só quero um blues (Christiano Moraleida)


Noites tão vazias

Noites cheias demais

Mentes tão bonitas

E eu nem quero pensar


Eu quero um blues agora

As três horas da manha

Vizinhos doentes

Procurando um divã


E eu quero um blues agora

as três horas da manha

Eu não quero pensar em nada

Deixa tudo pra amanha


Noites inteiras

Noites incompletas

Assuntos medíocres

Cabeças dispersas


Tudo o que eu quero é um blues

Agora é o que me faz bem

Não venha com sexo falso

Sexo frágil, nem vem

Bebida, álcool

Agora não me convêm

Eu quero um blues agora

É só o que me faz bem


Poetas perdidos

Em poesias banais

Fumos e cocas

Pensamentos astrais

Psicólogos loucos

Analistas demais

Cem gramas

Sem noites

Quanto tempo faz